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Mulher não é fantasia?

Eu acho bem válidas certas discussões em período carnavalesco que se passam exclusivamente no território do NÃO.

Nem todas, obviamente. Mas algumas são, de fato, interessantes, e poderiam ser resumidas em um conceito-chave: escrotidão. Se for escroto, meu caro, é não. E acabou-se.

(o primeiro exemplo de NÃO que vem na minha cabeça: o vídeo do Schwarzenegger vestido de índio no carnaval do Rio de Janeiro. Tudo ali é não).

O problema, no entanto, é que não existe algo como um “a priori” escroto no que diz respeito a ideia mesma de fantasiar-se. Tudo pode ser, mas tudo pode também não ser, a depender não da fantasia, mas do espírito que a encarna e do delírio que a movimenta.

Daí que o senso de autopreservação liberal progressista, forjado no debate “público” das redes sociais, amante de listas e códigos de conduta, seja incapaz de dar conta dos espaços de ambiguidade e meia luz que são, por definição, o território do carnaval.

Incapaz de lidar com a complexidade dinâmica da festa, só lhe resta assumir a intransigência civilizatória de um navegante europeu diante da barbárie dos sujeitos a se civilizar (leia-se, submeter de forma autoritária).

Antipatia autoritária, principalmente quando os argumentos estão corretos (não basta estar certo para ser Verdadeiro), revelando uma vez mais a “curiosa” tendência das utopias libertárias se realizarem a partir de bases autoritárias.

Enquanto isso, o carnaval vai impondo seus próprios códigos. Aquela sua amiga petista ferrenha que pega um boy bolsominion sem dó nem piedade, apenas porque sim. Ou aquele amigo hétero, que não sente mesmo atração por homens, recém saído da Igreja, e que fica com o boy que vende cigarro solto por nenhuma outra razão que não o fato de que “é Carnaval, então bora pai”.

A entidade que rege o carnaval é o SIM.

O SIM no que há de mais não-regulamentável. O caos na sua forma mais bem organizada. O NÃO faz parte dos seus limites, como deve ser todo espaço coletivo, mas quem os decide é o próprio carnaval, e vai ser assim até a abertura do último selo do Apocalipse, que, dizem por aí, será um grande Carnaval.

Por isso as Igrejas o temem, e nós, à semelhança de Cristo, não.

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