Internet

O gigante acordou? O papel da música nas manifestações (2013 – 2016)

Tive o prazer de conceder essa entrevista ao parceiro Igor Cruz, que está concluindo sua pós-graduação em jornalismo com uma pesquisa sobre as relações entre música e política de 2013 para cá. Gostei bastante do tema e das perguntas, que giram em torno de diversas questões importantes, como o papel da música nas atuais manifestações, a diferença com o período da ditadura militar, o impacto político da música hoje.

Em junho de 2013 tivemos as grandes manifestações e muitos personagens da música se manifestaram de diversas formas. Alguns fizeram músicas (Tom Zé, MV Bill, Latino, entre outros) outros subiram nos palanques e deram uma direção em suas opiniões (Lobão, Roger). Como você vê essa participação dessas personalidades em um momento delicado politicamente falando, no Brasil?

ADESÃO GENÉRICA

De outro lado temos aqueles compositores desconhecidos que também decidiram se manifestar, seja por dever cívico, seja pra aproveitar um tema da moda. Um trabalho interessante nesse sentido é a música do Gabriel Moura com Seu Jorge (Chega – não é só pelos vinte centavos), pois a meu ver ela traz a tona o problema mais evidente das reivindicações atuais – mas que ao mesmo tempo foi o que garantiu a ampla adesão das massas, sobretudo de certa direita liberal que não se assume enquanto tal. “Não é só pelos vinte centavos”, é “contra a corrupção”, por “mais saúde”, etc. Pautas genéricas que servem a qualquer campo ideológico e que progressivamente se converteriam em “fora Dil-Bandida e Lularápio”, “fim do PT”, etc., como se esses slogans representassem uma grande vitória democrática – e não o triste fim anunciado de uma tradição de esquerda com longo histórico de erros, mas também acertos importantes. Outra música interessante nesse sentido, por incorporar algumas contradições centrais dos protestos é “As coisas não caem do céu”, do Leoni. A canção tem um conteúdo bastante crítico, sobretudo com relação a certo comportamento passivo da classe média brasileira, celebrando a juventude com coragem de ir às ruas. A canção, no entanto, para por aí, nessa convocação dos acomodados, mimetizando um pouco do próprio lugar que a música brasileira ocupou nesses protestos: admirando a coragem dos jovens, mas sem saber muito bem o que fazer ou quais caminhos propor. E quando a geração de Leoni for propor coisa mais concretas – como Lobão – dada essa fragilidade ideológica de base, será facilmente convertida em um antipetismo bastante conservador, que nada tem a ver com uma crítica à esquerda.

Mas a canção-chave que sintetiza os problemas de todas essas músicas feitas para “aproveitar o clima” das manifestações é a do Latino, “O Gigante”. O cantor tem como marca característica a adaptação de sucessos gringos em versões nacionais sofríveis, aproveitando-se da onda do momento. Aqui se trata exatamente da mesma coisa, ou seja, uma maneira de se aproveitar do sucesso midiático dos protestos em uma canção que é muito mais uma celebração ufanista do povo brasileiro (e que provavelmente seria uma música de celebração da Copa do Mundo, mas que por conta da rejeição em massa desse evento teve que virar outra coisa) do que propriamente uma música de protesto. Ou seja, uma manifestação de “amor” cívico bastante fake e, no fundo, apolítico.

(Acho que vale a pena prestar atenção no novo disco do Lobão que acaba de sair, “O Rigor e a Misericórdia”, não tanto por sua qualidade musical, mas por sua organização material de certo espírito da direita. Ali tem uma coisa interessante de tipo novo, que expressa bem como essa direita enxerga a si própria enquanto agente histórico. Trata-se de um disco épico, grandiloquente por um lado, mas que tem um registro impostado claramente fake, quase descrente de seu heroísmo anunciado, misturado a um niilismo que é típico de suas canções mais fortes (sim, eu gosto bastante do Lobão compositor). Um épico que foi feito todo em casa atrás de um computador (“todo herói se diverte só”, solta na última canção do disco), mas apontando para a política das ruas. O resultado só poderia soar fake e caricatural, mas isso acaba se tornando fator de qualidade, com resultado menos ideológico do que se fosse um épico de fato. Aliás, épico fake é uma descrição bastante adequada para essa movimentação da direita que pretende moralizar o país, liderada pelo Bolsonaro. Junta-se a isso o fato do disco ser acompanhado do lançamento de um livro que explica o processo de composição, como se as canções não se sustentassem por si, o que por si indica algo do posicionamento frágil da música nesse contexto. Tudo isso pode ajudar a formular um diagnóstico).

Enfim, até onde pude acompanhar a maior parte dessas adesões musicais se dão pelo campo do nacionalismo genérico, que servem mais para evocar um sentimento geral de indignação do que propor críticas políticas de fato. E por isso é um campo amplamente manipulável pela direita (uma pauta como fim da corrupção é puramente afetiva e ideológica, porque não existe ninguém que tenha por bandeira a defesa da corrupção, nem mesmo o Paulo Maluf), embora seja importante dizer que não se trata de um movimento imediatamente orquestrado pela direita. Pois o movimento parte de uma indignação legítima contra o que tem se chamado de crise de representatividade, que demonstra o esgotamento de nosso sistema político e a busca por alternativas. Mas como essas alternativas não se apresentam de fato o que se vê no fim é o ressurgimento de propostas antiquíssimas com cara de novidade (é só acompanhar o texto de estreia do jovem Kim Kataguiri, do MBL, como colunista da Folha de São Paulo), cuja expressão mais evidente é a série de retrocessos que o Eduardo Cunha tem nos empurrado goela abaixo.

MILITÂNCIA RENATO RUSSO

Com relação a participação dessas “personalidades” como você diz, é importante, portanto, separar o joio do trigo, ou seja, tentar definir o que é mero aproveitamento de um modismo, e o que representa um tipo de envolvimento mais sério e consequente. E é aqui que a meu ver entra o segundo grupo que você cita, que são aqueles músicos que se engajaram nesses debates não a partir de sua música, mas a partir de um conjunto de opiniões expressas em redes sociais e afins. Creio que aqui nós temos uma configuração interessante a se pensar, pois alguns dos principais nomes (Roger, Lobão, Dinho Ouro Preto) têm algumas coisas em comum: uma tendência política a direita que se assume enquanto “a” ou “supra” partidária, em alguma medida ligada ao rock brasileiro dos anos 1980. Esse é um ponto fundamental que precisa ser melhor explorado, porque acho que ajuda a desfazer a interpretação a meu ver equivocada de que a principal força da direita nas manifestações é aquela que pede o retorno da ditadura e outras sandices. Acho que essas interpretações forçam um deslocamento para uma lógica binária que não ajuda muita coisa. As forças conservadoras, que são de vários tipos, têm de ser compreendidas no interior do contexto atual, e não como o retorno anacrônico a um contexto pré-abertura. A força do fundamentalismo evangélico que vemos aqui é de tipo novo, e tem relação direta com o abandono do trabalho de base das esquerdas, bem como com o pacto diabólico do PT com o fundamentalismo neopentecostal. Assim como é de tipo novo o conservadorismo da geração Y que desde que quando estava aprendendo a falar já via o PT no poder. Para esses, Lula e sua turma encarnam tudo aquilo que há de podre na política nacional desde a época da colonização. E existe ainda essa geração que se formou no espírito do rock BR dos anos 1980, e assume certa “liderança” intelectual (ao lado dos liberais da revista Veja e da Folha e dos ultraconservadores delirantes como Olavo de Carvalho). Ou seja, aquela geração que viveu o início do período de democratização no país e que procurou fomentar um tipo de engajamento específico, desvinculado tanto de um projeto político imediato (como tinha a MPB do final dos 1960) quanto de algum vínculo mais estrito com alguma base social (como será o rap nos anos 1990). Uma geração que aprendeu a militar com o Renato Russo, o grande paradigma desse modelo de postura crítica conservadora, muitas vezes bastante moralista, do Brock. O Legião Urbana apresenta um inconformismo de cunho bastante conservador, uma cultura bacharelesca bem demarcada como forma de distinção erudita, sobretudo a partir do quarto disco, e um hedonismo ultra-româmantico que gera resultados interessantes e outros sofríveis. A letra e, sobretudo, o clip de Perfeição é bastante sintomático do tipo de revolta conservadora e hedonista que é uma marca de uma geração politicamente imatura (assim como nossa democracia). As mensagens de revolta abstrata da letra destoam completamente das imagens infantis e bobocas do clipe, como se a revolta fosse o tempo todo de brincadeira, com o poeta-sábio pairando serenamente acima de todo o desastre social que canta. Uma revolta em que o sujeito é, no limite, alheio as suas próprias reivindicações, pois o que lhe interessa são outras coisas. O que a princípio parece envolvimento político é na verdade um olhar auto-indulgente de quem paira acima da carne seca, transformando a crítica política em forma de celebração de sua própria distinção.

Diga-se de passagem, essa ideia de que o posicionamento crítico está sempre a esquerda é um mito que a esquerda adora sustentar, mas que acarreta bastante prejuízo em termos de compreensão, pois nada é mais comum no Brasil do que essa aliança espúria entre pensamento crítico e conservadorismo, quase um modo de ser da nossa história intelectual. De todo modo, quando os rebeldes sem causa do Brock, já em franco declínio comercial (apesar do revival dos anos 1990 e início dos 2000 quando assumirem uma postura claramente romântica, com os Acústicos), optarem por se engajar mais diretamente em uma discussão política, essa dimensão conservadora irá se tornar evidente. Soma-se a isso certa habilidade na manipulação midiática a seu favor – Lobão é um mestre da autopromoção, assim como seu antagonista-fetiche predileto, Caetano Veloso, no qual claramente se inspira, mas ao qual acrescenta um perigoso traço de anti-intelectualismo, próprio dos “politicamente incorretos” – e o estrago está completo.

Por isso acho que é incorreto pensarmos em termos de uma “guinada conservadora” da geração Brock. Só se for uma guinada de 360 graus… Nesse sentido pode ser interessante acompanhar as revisões históricas do legado da ditadura que têm sido feitas por pensadores como Paulo Arantes e Eduardo Viveiros de Castro, que desconstroem aquela narrativa hegemônica que sustenta que a ditadura foi “vencida” pelas forças democráticas. Ou pior, que a ditadura foi vencida pela “pressão cultural” da esquerda! Como se os militares resolvessem desistir por não aguentar mais ouvir aquele povo chato cantando “Pra não dizer que não falei das flores” na sua orelha. “Vamos desistir do poder senão o Edu Lobo vai cantar de novo…”. Na verdade, a ditadura se encerrou porque completou seu ciclo, o que significa dizer que nós não vivemos uma transição para a democracia que foi interrompida pela ditadura, e depois retomada: a própria ditadura é que foi a verdadeira transição para a democracia capenga que temos hoje. Nesse sentido é interessante pensar que a geração do rock BR não é composta pelos filhos rebeldes das vitórias dos anos 1970, ansiosos por mais democracia, e sim os descendentes diretos daqueles ideais fortalecidos pela ditadura, e que a partir dos anos 80 se tornam hegemônicos. Não os “filhos da revolução” cantado por Renato Russo, mas os herdeiros da “contra-revolução” sob o qual desenvolveu-se o capitalismo no Brasil, e que é perfeitamente encarnado na figura do Lobão, que inveja o posto de rebeldia midiática de Caetano Veloso enquanto sonha em vestir a farda de algum general. É claro que não se trata de defender que todo rock star dos anos 1980 é necessariamente conservador, mas é preciso especificar melhor os sentidos políticos daquela rebeldia, atentando para seus efeitos no presente.

Em comparação com a época da ditadura militar, você acha que a música cumpriu um papel politizado nesta que é a linguagem artística de maior alcance?

TRILHA SONORA DA VEZ SÃO VÍDEOS DO YOUTUBE

A despeito da enorme dificuldade de tratar das relações entre música, ou artes em geral, e política, acho que sua questão diz respeito a função privilegiada que a música popular cumpriu durante os anos de chumbo da ditadura, enquanto fórum de discussão e mobilização de afetos. Bom, creio que a comparação se deve ao aspecto mais amplo de um contexto de mobilização política que cobra o engajamento e posicionamento dos cidadãos, tornando praticamente toda disputa uma questão política de vida ou morte, no caso, pró ou contra o PT. Dito isso, as semelhanças praticamente se esgotam, e é preciso estar atento para o conjunto de diferenças que se impõem.

Uma primeira diferença importante talvez possa ser descrita como certa “clareza” geral de objetivo – ainda que ilusória e constantemente disputada – que unificava os conteúdos particulares ao redor da música popular nos anos de chumbo. De um jeito ou de outro, os militares no poder, aliados das forças imperialistas, eram o inimigo claro e direto da MPB, que segundo o Marcos Napolitano formava uma espécie de “resistência civil” contra o regime militar, muito mais seguro para quem não podia, não queria ou tinha a opção de não pegar em armas. Assim, basicamente qualquer música em favor da liberdade podia ser interpretada como contrária a ditadura, inimiga natural da liberdade democrática, e as canções que não eram críticas eram quase sempre interpretadas como favoráveis ao regime, ainda que as coisas tenham embaralhado a partir da guinada tropicalista da MPB em direção a si própria. Contudo, a despeito de toda a complexidade histórica dos agentes, ideologicamente as coisas estavam colocadas de forma mais clara: existia uma resistência (de esquerda) contra a ditadura (de direita) e a MPB era sua trilha sonora oficial, inclusive em termos mercadológicos. Foi precisamente esse conjunto de certezas que ruiu a partir de certo momento da história, a começar pela clareza da sigla MPB, que ninguém sabe mais ao certo mais ao que se refere. Nas ruas estão diversos grupos em disputa, e mesmo quem tem uma definição política mais clara não tem exatamente um lugar completamente seguro para engajar-se. As vezes ser de esquerda é defender o PT contra o Bolsonaro, as vezes é atacar o PT contra os governistas, as vezes é sair do jogo, outras é entrar de cabeça. Como muitos analistas já demonstraram, a descentralização e a horizontalidade são a tônica desse novo modelo de manifestação. Talvez por isso a dificuldade de uma trilha sonora específica, pois sem sentido unificador não existe trilha sonora unificadora. Daí que se apele para o hino nacional, é um pulo.

Mas não é só a diferença estrutural entre os protestos contra a ditadura (em que havia uma centralização dos afetos à esquerda, com toda ambiguidade possível) e as manifestações pós-junho (onde a descentralização faz parte das reivindicações, para quem achava que as pautas descentralizadas das políticas de identidade não possuíam poder de mobilização) que está em questão, mas também o papel da música em relação a cada uma delas, a despeito dessas diferenças. Nesse ponto acho que um aspecto decisivo é justamente o aspecto marginal que a música ocupa nessas manifestações, sobretudo se comparado com a centralidade da mobilização na época da ditadura. Sem sombra de dúvida, os colunistas sociais de diversos meios assumiram um papel bem mais central e decisivo do que os músicos nesse contexto. A tal ponto que os músicos mais influentes no debate são aqueles que se tornaram colunistas influentes nas redes sociais, como o Lobão ou o Tico Santa Cruz. O agente midiático da vez, onde se concentra o núcleo cultural decisivo desse processo político não é mais a canção popular, e sim as redes sociais e o colunismo político-cultural, marcados também pela descentralização (tanto a MPB quanto a televisão, que crescem juntas, operavam por meio da centralização). Essa diferença é, a meu ver, fundamental: enquanto na ditadura os artistas ligados à música popular, sobretudo na MPB, estavam no centro do que se reconhecia como o campo da “resistência civil” ao regime militar (independentemente do quanto essa resistência de fato articulou-se enquanto ameaça real ao regime), nas manifestações atuais as principais “lideranças” estão em alguma medida relacionadas aos meios de comunicação, digitais e impressos, e as redes sociais. Em todo caso, não é na música popular que a dimensão cultural desse processo se articula com mais força.

É por esse caminho que se entende também a baixa qualidade dessas canções feitas imediatamente para os protestos, sobretudo se comparada com a qualidade excepcional de algumas das canções de protesto da MPB em seu auge. Esse é outro aspecto importante a se considerar: porque essa onda de protestos contemporâneos, que a meu ver já é um dos eventos políticos mais significativos da nossa época (como um marco, por exemplo, do processo radical de ruptura entre movimentos sociais e política institucional), não fomentou uma trilha sonora de qualidade? Porque a dinâmica criativa e inovadora foi parar em outros meios, sobretudo os digitais? A meu ver isso não tem relação com a “canção de protesto” em si (existem inúmeras canções críticas excelentes, muitas delas ligadas as demandas por identidade), e sim com essas manifestações em particular, com sua insistente flutuação de sentidos para o qual ainda não existe trilha sonora possível, apenas arremedos como o Hino Nacional, que funciona ideologicamente como a nona de Beethoven ao longo da história, unificando paixões pelo reconhecimento e apelo cívico a uma coletividade inexistente.

A música cumpriu papel politizado nas manifestações? Se sim, acertamos? Se não, porque erramos? Ou, o que faltou (ou ainda falta) na politização da música brasileira atual? Essa pergunta é porque você escreveu um texto sobre o indie brasileiro despolitizado…

Eu voltaria um ponto nessa definição do engajamento da música como “acerto” e o desengajamento como um “erro”, o que não é evidente sob nenhum aspecto. Afinal, porque a música relacionada às manifestações atuais deveria cumprir um papel similar ao que teve na ditadura? Se a mobilização cultural acontece agora em outro campo, isso deve ser, sem dúvida, compreendido, mas não necessariamente lamentado. De todo modo, como já disse, acredito que uma “trilha sonora” específica das manifestações não seria possível, tanto pelo caráter estrutural das manifestações, quanto pela posição contemporânea da música popular mais politizada no interior do campo cultural.

Como você fez menção a meu artigo sobre a MPB neo indie, acho que convém avançar em um ponto dele que gerou certa controvérsia. Ao contrário de algumas críticas, minha questão não foi atacar a falta de politização dessa produção neo-indie, a falta de aspectos mais diretamente sociais nas canções, etc. E para deixar bem claro esse ponto, logo no início do texto eu proponho uma comparação com a Bossa Nova, que também faz um tipo de canção radicalmente despolitizada, com conteúdos as vezes quase infantis, e que também foi constantemente “atacada” por isso (e poderia seguir citando uma infinidade de compositores “despolitizados”, como Fagner e Jorge Ben, que eu considero geniais). No entanto o sentido social e ideológico da despolitização neo-indie é radicalmente diferente, pois a Bossa Nova dilui seus sentidos mais diretos e imediatos em nome do fortalecimento do conjunto, chamando a atenção para a estrutura musical, um movimento que entre outras coisas tornou possível uma imaginação política de tipo novo no campo da cultura – não haveria MPB sem o gesto criativo de João Gilberto. Nada mais distante do movimento neo-indie, que quer fazer um tipo de canção feita pra acabar e “desaparecer” diante de nossos ouvidos, apostando naquilo que eu defini como sendo uma estética da irrelevância, bem próximo ao que o Romero Britto propõe no campo das artes plásticas, só que aqui com um teor mais melancólico que festivo. Obviamente que uma melancolia encenada e autocomplacente que mal disfarça a satisfação e o conforto de sua posição. O interessante é que enquanto o Romero Britto é escorraçado, não sem certo elitismo, no interior das artes plásticas como um ideólogo de baixo nível, a MPB neo-indie é muitas vezes tratada como um tipo de som alternativo e mesmo progressista, contra a violência e a barbárie do mundo, cuja principal qualidade está em seu “descompromisso”. De repente, assumir que a música é mesmo trilha sonora de margarina, e que isso é ótimo, se tornou cult. Ora, não é preciso ser nenhum adorniano pra entender o grau de rebaixamento e perversidade que essa “felicidade” engarrafada pressupõe – qualquer seriado americano faz essa crítica. A minha questão, portanto, foi justamente identificar o quanto desse descompromisso está profundamente comprometido com certa ordem e que, no limite, casa muito bem com ela. No mais, o que eu defendo no artigo não é nenhuma novidade, e foi suficientemente escancarado pelas mulheres na campanha contra #meuamigosecreto: o fofo é o novo canalha, como afirmou o Xico Sá. Aquele camarada gentil, delicado, que escuta e sabe de cor as principais reivindicações feministas, mas que as usa sempre em beneficio da manutenção de seus próprios privilégios. O cidadão de bem liberal mudou de forma, mas continua sendo um canalha, que não assiste Ratinho porque é muito agressivo, mas chora de rir com o muito mais cool CQC, aquele programa que fez o desfavor de colocar em evidência o Rafinha Bastos e o Danilo Gentilli. A minha crítica, portanto, não é a favor da politização em música, mas é um questionamento sobre o sentido ideológico desse tipo canção, do qual não se consegue escapar.

Por outro lado acho realmente importante o debate sobre a “perda” de potencial crítico das canções hegemônicas. E aqui é interessante retomar outro debate recente do qual eu participei indiretamente, com o texto polêmico do Vladimir Safatle sobre o “fim da música” no Brasil. O argumento do Safatle causou bastante discussão, o que foi ótimo, e basicamente sustenta que as canções brasileiras hegemônicas eram dotadas de qualidade até o início do lulismo, mas que nesses últimos anos essa dinâmica se alterou drasticamente. Ou seja, nos anos 1970 tivemos hegemonia da MPB, nos anos 1980 do ainda crítico Brock, os anos 1990 foi dominado pelo pagode e pelo axé, mas ainda havia amplo espaço para grupos como Rappa, Planet Hemp, Nação Zumbi e Racionais MC’s (embora Safatle ignore completamente o rap). A partir dos anos 2000 pra cá, contudo, a hegemonia pertence quase que com exclusividade a estilos pobres esteticamente e claramente adesistas ao status quo, como o funk e o sertanejo universitário. Ou seja, ao contrário do que se argumentou, Safatle não quis dizer que não se produz mais musica de qualidade no Brasil, ou que só a música erudita é que presta, e sim que a música hegemônica, massiva, aquela que mais se consome, caiu de qualidade e perdeu em potencial crítico, o que é um fenômeno difícil de se contestar. Aliás, acabo de ler um texto excelente sobre essa polêmica, que inverte a questão e demonstra que o elitismo está no olhar paternalista da esquerda que defende uma pureza do campo popular. No campo que me interessa mais imediatamente, é praticamente impossível não reconhecer o que se perdeu em termos de conteúdo crítico na passagem do rap para o funk carioca. O olhar proposto pelo rap é muito mais complexo e rico que a média do funk e, de fato, algo de certo aspecto progressista de aposta na comunidade periférica se perde na valorização da ostentação pura e simples, por si só. E quem diz isso não eu, mas os próprios moradores de periferia ligados a cena cultural. Se antes um jovem que curtia um rap ficava curioso pra saber quem era Malcon X, Luther King e Marighella, hoje ele corre atrás para saber o que é Hornet, Bandit e RR. Não da pra sustentar que se trata da mesma coisa, e que deve ser valorizado por ser da periferia, como se essa fosse sempre idêntica a si mesma.

Entretanto, reconhecer o quanto dessa dimensão progressista se perde não significa o mesmo que afirmar que o funk não tem absolutamente nada a oferecer. E é aqui que o olhar de Safatle escorrega. O filósofo demonstra uma certeza muito acentuada de seus próprios critérios de qualidade, certeza que é imediatamente colocada sob suspeita por todos os lados, com intensões críticas ou nem tanto. Safatle parece tão certo de seus critérios que não coloca em questão em nenhum momento a sua posição de fala, contrariando justamente a principal lição que os movimentos sociais contemporâneos vêm gritando pelo menos desde 1968. Seu lugar de acadêmico uspiano, branco, cis Éé tomado como ponto de partida não problemático – provavelmente porque para ele isso seria ceder ao anti-intelectualismo hegemônico, que de fato existe e é onde brilham sujeitos como Lobão, Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo – como se esse gesto básico de reconhecimento da sua posição imediatamente deslegitimasse suas afirmações. A meu ver, o que acontece é justamente o contrário: Safatle acerta no diagnóstico, mas erra na postura, fechando o caminho para o diálogo ao mesmo em tempo que afirma que o problema da periferia é a falta de diálogo com a alta cultura. Ora, onde o texto dele realizou esse diálogo? “Não adianta querer ser, tem que ter pra trocar”. No fim das contas sua escrita parece bem pouco disposta a dialogar de igual pra igual com a cultura periférica, e é justamente essa postura que os manos não engolem mais, por saber perfeitamente bem aonde é que ela leva. Não dá simplesmente para um cara na posição do Safatle jogar pra periferia que eles tem que abrir seus horizontes sem fazer nenhum esforço de aproximação legítima. A despeito do acerto do argumento, faltou postura e proceder… Não se trata, portanto, de sustentar que o funk não tem problemas, ou que os conteúdos das canções não são muitas vezes profundamente regressivos, em nome de um olhar paternalista que se exime de fazer crítica. Mas a alternativa oferecida por Safatle – que não realiza, por exemplo, qualquer análise do funk, se recusa a imaginar nesse qualquer positividade e enfatiza muito mais os benefícios do contato da música erudita com o popular do que o contrário (e o popular é muito mais aberto ao erudito no Brasil do que o erudito ao popular) – segue reproduzindo o mesmo problema que ele acerta em diagnosticar.

Entretanto, o processo que ele apresenta sem se aprofundar nas causas ou razões (ele chega a sugerir que tem a ver com o lulismo, mas não faz nenhuma análise estética que o comprove, ao mesmo tempo que reclama da falta de análise estética das críticas sociológicas), é real. Existe sim um processo em curso de precarização estrutural que atinge não só a música popular, mas também outras áreas da cultura, como o futebol, e que não tem imediatamente a ver com a qualidade estética (tem sido produzido música de qualidade aos montes), nem é irreversível. Trata-se antes de uma transformação radical do estado geral do campo da indústria de entretenimento no país, que passa por um de seus mais radicais processos de reestruturação, comparável a mudança do rádio para a TV, ou do disco de 78 rotações para o LP moderno. Esse estado geral de precarização atinge os ídolos de massa, os modelos de distribuição, o circuito dito alternativo e as culturas tradicionais, e prepara terreno para um estágio novo por vir.

Você vê (ouve) algum destaque na cena musical atual, politicamente falando? Quem?

Reconhecer que a música popular não cumpre um papel de destaque no cenário político recente das manifestações, sobretudo se comparado com o papel decisivo que teve com o RAP e a MPB dos anos 1960, não significa de forma alguma que não se esteja produzindo música popular de qualidade com sentido político e crítico, atualmente. De todo modo acho que sua pergunta se refere a uma relação mais imediata entre o conteúdo das letras, o posicionamento público do artista e a abordagem de temas políticos relevantes para o contexto atual, o que exclui as relações mais abstratas entre política e música instrumental, por exemplo. Vou deixar de fora também um músico como o Lobão, que tem inegavelmente um grande impacto político no cenário contemporâneo, a direita, mas ligado principalmente a sua militância nas redes sociais e em publicações impressas, e não em suas canções. Também suponho que quando você utiliza o termo “destaque” – e também porque você estabeleceu uma relação com a música durante a ditadura militar – significa que você está se referindo aqueles artistas que tem uma atuação política que tenha um alcance mais amplo, o que exclui aquele conjunto imenso de artistas que tem pouca ou quase nenhuma visibilidade midiática. Por isso um grupo que eu admiro muito como El Efecto, que tem letras claramente politizadas e um conteúdo formal radical e inovador, também não entra na conta, apesar de ter tido certo destaque quando das manifestações mais radicais em 2013, sobretudo com a música O Encontro de Lampião com Eike Batista. Assim como outros nomes pontuais que surgiram ou (re)surgiram com canções tendo o processo política atual como mote: Leoni, Detonautas, Capital Inicial, Edu Krieger (interessante caso que tenta recuperar a mesma dicção da MPB engajada, mas com uma visão bem afinada ao caráter abstrato das reivindicações – Gol da Vitória, Desculpe Neymar, fazendo reivindicações padrão Fifa).

De todo modo, com relação aos processos políticos contemporâneos o papel da música popular tem sido secundário, cabendo as redes sociais e seus militantes digitais um lugar de destaque bem maior. Nesse sentido, nenhuma canção cumpre hoje o mesmo papel simbólico de “Pra não dizer que não falei das flores”, “Apesar de você” ou “Cálice”. Mesmo artistas que relacionam política e arte de forma mais direta, como Lecy Brandão e Chico César, não tem uma obra que atinja o público de forma tão efetiva quanto na época áurea da MPB do final dos anos 1960, ou no começo da mobilização em torno do rap nas periferias de São Paulo nos anos 1990, para citar dois momentos chave da história da música brasileira.

Mas essa relativa ausência da música nas manifestações não significa que o sentido político ou crítico esteja ausente da música popular. Ainda que não seja a produção hegemônica, pois esta é especialmente dominada pelo sertanejo universitário que trata de temas hedonistas herdados do rock n’ roll adolescente mais descompromissado, agora sem os ares de rebeldia juvenil (trata-se apenas da diversão de adultos infantilizados, solteiros ou adúlteros, pois casamento e suas regras é muito chato). Contudo, com relação a outras pautas, como as políticas de identidade, a música tem tido sim um lugar de destaque cada vez mais pronunciado. Aqui eu destaco as participações do Emicida no debate público sobre questões relacionadas a desigualdade racial e social, e os diversos temas do debate de gênero que tem atravessado a obra de artistas como Karina Buhr, Valesca Popozuda, MC Carol, e outras funkeiras, assim como a roqueira Pitty. Note-se que eu não estou aqui discutindo a efetividade desse discurso, se é ou não feminismo o que faz a Valesca, mas apenas demonstrando que as questões de gênero comparecem efetivamente aí. Acho que em certo sentido a síntese desse movimento mais recente está no último disco da Elza Soares – A mulher do fim do mundo – que relaciona em uma síntese poderosa as diversas configurações da marginalidade (mulher, negra, às margens da MPB e, sobretudo, o simbolismo de sua idade) que quer gozar e cantar até o fim, para além da dinâmica produtivista dos corpos. Talvez seja esse o trabalho de maior força estética que pude ouvir nos últimos tempos, e nele o papel do discurso crítico é fundamental. E não devemos nos esquecer de que essas pautas das chamadas políticas de identidade estão diretamente relacionadas com a crise da representatividade política, centrando o debate num corpo irredutível que não quer ser representado, mas incluído diretamente na ordem política.

Portanto, as diversas formas de engajamento e desengajamento seguem valendo no campo da canção, ainda que seja importante pensar nas razões para esse descompasso entre a música de protesto e o tipo de novidade política trazida pelas manifestações pós 2013. Talvez seja possível arriscar pelo menos duas previsões: 1) para que a música possa assumir um papel mais importante no que está acontecendo nas ruas é necessário criar outro modelo de canção de protesto, que incorpore a fluidez e inconsistência radical dos protestos – uma forma musical mais diretamente adaptada a realidade da internet – ou 2) é preciso aceitar de vez que a música talvez não seja o canal mais adequado para circulação da imaginação política das ruas pós 2013.

Música politizada, vende?

Vende sim, e não é pouco. É preciso não se esquecer que o desenvolvimento da música popular brasileira desde o início é um processo vinculado estreitamente à indústria de entretenimento, para desgosto dos críticos da Indústria Cultural, que literalmente têm que sambar pra explicar como pode haver arte de qualidade nesse meio. A consolidação da linguagem do samba está estreitamente ligada ao desenvolvimento do rádio, assim como a MPB se relaciona ao desenvolvimento da televisão. Mesmo o rap, que cria um verdadeiro mercado paralelo em território nacional, não pode ser pensado fora do processo de mundialização da cultura norte-americana. Nesse sentido os mecanismos comerciais encontram maneiras de obter vantagem tanto das posturas mais “alienadas” quanto das mais engajadas – é só lembrar da criação do movimento punk, que só é ilegítimo caso permaneçamos presos a necessidade de criação de mitos de origem puros.

Portanto, a questão interessante aqui a meu ver não é tanto a oposição entre engajamento e mercado, mas as formas como essa relação é estabelecida. Os Racionais passaram anos desvinculados dos processos de mercado mais convencionais, criando uma postura de coerência ética diretamente vinculada a sua qualidade estética. No caso da MPB, seu engajamento é praticamente impensável fora do circuito midiático, o que não comprometia sua qualidade – pelo contrário, sua força consiste precisamente em articular esses dois impulsos, bem como as relações entre erudito e popular. Já no caso da música do Latino para as manifestações, trata-se de um claro modismo que procura lucrar com a disposição de espírito do povo nas ruas, talvez criando um hit para a próxima novela que não deu muito certo. De todo modo, não é o fato de ser um gênero estético vinculado ao mercado que tornam falsas as formas de engajamento na canção.

E você acha que a música tem esse “poder” de “politizar” (ou de esclarecer politicamente) as pessoas? Antigamente (da ditadura para anteriormente) e atualmente.

Bom, como já disse essa relação é bem complexa não só no que se refere à música, mas nas relações entre arte e política de uma maneira em geral. Eu gosto da definição de Antonio Candido, de que a literatura é política na medida em que faz viver. Ou a definição de Rancière de que a arte é política apenas na medida do que lhe é possível, no caso, na partilha do sensível, que é basicamente a forma de se imaginar as maneiras como se arranjam as coisas no mundo, que está na base da política enquanto tal. Dito isso, e sendo viciado em materialismo, não creio que a dimensão política seja inerente a arte mas, sendo esta essencialmente linguagem, participa inevitavelmente dela. E a musica, portanto, vai cumprir uma função política importante em diversos momentos da história. Desde o papel central do rap na formação da identidade periférica e na mobilização política desse segmento, até o menos óbvio papel dos blocos afro no processo de valorização da negritude no axé baiano. Para não falar do papel decisivo do samba no processo de imaginação da comunidade nacional nos anos 1930.

Com relação a comparação que você propôs, é evidente que o papel de politização por meio da música se fez muito mais ativo no período da ditadura militar, por uma série de fatores. Entre eles os vínculos dos compositores da MPB com as ideias de esquerda – comunismo, movimento estudantil, contracultura – e o papel central que a música representou para a indústria de entretenimento naquele momento – o sucesso de público da MPB está estreitamente vinculado ao surgimento da televisão – bem como o vínculo estético da MPB com a Bossa Nova, que representou a nossa modernidade musical (João Gilberto realizou em âmbito local, por um caminho totalmente próprio e anos antes, aquilo que Bob Dylan representou para a música pop americana). Hoje – e quero dizer de 2010 para cá – o papel de mobilização cumprido pelas redes sociais é muito mais forte do que no campo da canção. Mas é sempre oportuno lembrar que nos anos 1990 a arte politizada estabeleceu um novo vínculo profundo entre estética e política, por vezes mais radical e contundente que diversas propostas dos anos 1970, por meio do rap produzido nas periferias, sobretudo em São Paulo. E durante o auge de um processo que o senso comum via como o momento de maior vulgarização da história da nossa música (título que ressurge basicamente a cada década), com a hegemonia do pagode e do axé. Portanto, antes de anunciar a morte da música, convém lembrar que seus diamantes costumam surgir da lama.

Como você vê a geração atual de artistas da música, politicamente falando?

Eu acho que essa já foi respondida. Mas aproveito pra lembrar apenas que os conteúdos políticos e sociais da música não estão apenas em temas e conteúdos diretamente engajados. Muitas vezes a verdadeira dimensão política da arte está mais efetivamente presente na forma que no conteúdo. No mais, os dilemas dos artistas parecem acompanhar o mesmo ciclo de contradições e reestruturação das forças políticas. Nomes importantes da MPB áurea que ainda estão na ativa produzindo música de qualidade acabam seguindo a visão política conservadora de Roberto Carlos no quesito biografias; o rap vai cada vez mais se firmando no mercado hegemônico, abrindo concessões cada vez maiores; o funkeiros criam uma linguagem no mais das vezes plenamente adequada a ordem, mas são mortos pela polícia em nome dessa mesma ordem, incomodando mais que o rap, que tem conteúdo mais crítico; os roqueiros dos anos 1980 voltam a linha de frente do debate político, mas com pouco avanço musical e adesão à direita; a música contemporânea altamente criativa parece incapaz de por si só criar meios de conexão com o grande público, apesar de no geral não ser um som de difícil acesso; a música que atinge o grande público segue pasteurizada, a despeito da aparente liberdade digital que é mais controlada do que gostaríamos de reconhecer; fronteiras artificiais de gênero são rompidas continuamente, mas as velhas separações retornam com tudo, violentamente, pela porta da frente; não dá mais pra dizer com tranquilidade o que é exatamente MPB, mais ainda corre muito sangue na disputa pra se fazer parte de seu seleto time.

Enfim, não sei se o grande fato musical\político da nossa época é aquele sugerido pelo Safatle – a hegemonia de uma canção adesista de baixa qualidade, que coincide em alguma medida com o pacto lulista. Se for assim, a tendência com a derrocada do PT é a produção hegemônica voltar a melhorar. Mas acredito que esse diagnóstico ganha em valor interpretativo quando é compreendido no contexto mais amplo do que chamei, baseado em um diagnóstico de Rômulo Fróes, de processo de precarização do sistema cancional brasileiro, que atinge tanto a canção comercial “de massa”, quanto os circuitos alternativos, tanto a música mais ligeira quanto a mais séria. Processo esse que está ligado diretamente ao momento de reconfiguração do sistema após a derrocada da indústria fonográfica, e com a articulação de novos modos de distribuição e organização da matéria musical, que ainda não se consolidou (por exemplo, segundo Lorenzo Mammi, por mais que o CD – que por sua vez copia a estrutura do LP – não seja mais a forma privilegiada de organização sonora, os discos lançados diretamente pela internet ainda obedecem ao conceito de álbum, diretamente ligado as possibilidades físicas do LP, que já foram superadas). Precarização que marca uma derrocada e a possibilidade de novos começos, como podemos acompanhar na efervescência da cena de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Share this post

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *