Não aprendi nada de novo esse ano. Em compensação, reaprendi a perder e desaprendi a prever futuros.
Amei e desamei, muitas vezes sem conseguir diferenciar um do outro. Não recomendo pra ninguém.
Muito mais desencontros que encontros em 2022. Dois de copas invertido na casa cinco.
O ano em que Will Smith deu na cara do Chris Rock. Eu não bati em ninguém mas, em compensação, briguei com um mói de gente. Rainha de espadas torando o aço, cortando a própria pele com a navalha.
A pandemia cobra seus tributos e eu, definitivamente, desaprendi a viver em sociedade.
Bendito fruto de vosso trabalho: só agora, aos 42 anos, consegui comprar meu primeiro carro. Vitória? Eu ainda não sei dirigir.
Pelo trigésimo ano consecutivo, trabalhei mais do que gostaria. E pelo sétimo ano consecutivo, curti menos pagode do que deveria. Vida besta.
Aos poucos, meus fantasmas vão se fundindo aos fantasmas da cidade. Mais melancólica que tediosa, carregada de ressentimentos de mais e sambas de menos. O Enforcado na casa 3.
Das coisas lindas, um livro de poesia escrito com meu irmão de fé, celebrando vinte anos de amor compartilhado, o projeto Querino, ser citado em um livro de Fanon, uma mesa com Conceição Evaristo, outras mesas com pessoas queridas e intelectuais que admiro, abraçar amigos chegando aos topos, o carinho dos alunos, os bons encontros.
A medalha de mérito literário na Câmara de Garanhuns que me fez chorar um bocado, muito bem-vestido. Pelo discurso, regido por Exu, sou conhecido na cidade como o homem que invocou o diabo no parlamento.
Conheci o Pantanal: dez dias dentro d’água e uma pneumonia que me faz chiar até hoje. Valeu a pena.
Recuperei amor pela seleção brasileira no exato momento do gol do Richarlyson; chorei de alegria por causa de uma eleição (não há nobreza alguma nisso); chorei de emoção com Exu consagrado em plena Sapucaí; e chorei de raiva quando o dianho do Brasil Paralelo me convidou pra participar de um documentário, o que me custou quinze sessões extras de terapia.
Em 2022 o tempo passou mais devagar: desejos de pertencimento, gréas em família, sentir-se Casa. Mas nem por isso passou mais leve, e levou consigo o doce e gentil Renato, uma das melhores pessoas que conheci em Garanhuns. Sua partida me tornou uma pessoa um pouco pior, mais intolerante e impaciente com pessoas e entidades que se esforçam por tornar a vida mais difícil do que ela já é. E aos 40, muita coisa é mais difícil, a começar por nós mesmos.
2022, o ano do Tigre. Não aprendi muito, desaprendi demais. Nove de espadas na casa 1. Ogum desencapado no pós-apocalipse.
Que venha o próximo round.