Nessa época do ano eu encarno aquele tipo mais insuportável: o comentarista de BBB que não assiste ao programa. Eu me odeio, mas aceito.
Não vejo nenhum mérito em não assistir BBB, muito pelo contrário. Eu não sou do time dos que acham que seríamos melhor sem ele. Longe disso. De fato, acho a coisa mais estúpida do mundo aquela oposição forçada entre BBB e Leitura, como se 1) Não fosse possível fazer as duas coisas ao mesmo tempo 2) A literatura não fosse uma forma bem assentada de alienação e 3) a não leitura no Brasil fosse causa, e não sintoma (nosso principal problema por aqui é a elite letrada, e não os fãs de BBB).
Eu queria conseguir assistir BBB porque acho interessante o debate, que acompanho fielmente pelas redes sociais. E adoro levar BBB pra sala de aula.
Na real, o que me faz não conseguir assistir ao programa é que ele me deixa TRISTE. Simples assim. E pra me deixar triste eu já tenho boletos o suficiente.
Ao contrário dos que dizem que o BBB é um espaço de ALIENAÇÃO, o que me entristece é que eu acho aquilo tudo REALISTA demais. Eu não assisto BBB porque o que eu mais quero é me alienar, e o programa simplesmente não permite.
Primeiro que eu não consigo ver aquilo como um jogo, mas sim como TRABALHO, como diz a Silvia Viana. O BBB é um programa em que as pessoas trabalham 24 horas por dia, até enquanto dormem, ou transam. E nada consegue me deprimir mais do que o trabalho.
O BBB também me lembra que uma mulher negra pode ter uma rejeição de 99% do país, enquanto uma mulher branca rica igualmente perversa provavelmente irá ganhar o protagonismo da próxima novela. Juliette me deixa triste porque me lembra que o sucesso massivo de um músico tem pouco a ver com seu talento. Jean Willys também me deixa triste, ao lembrar que até os sonhos progressistas envelhecem mal.
É por isso que vou seguir mantendo a tradição: não assistir ao BBB, mas participar ativamente do jogo, a começar pelo já clássico textão mala justificando as razões de não assistir ao BBB.
O BBB é realista demais pra quem, como eu, as vezes só quer saber de se alienar um pouco. Ou muito. Afinal, sem um bom punhado de alienação verdadeira, sequer é possível sonharmos.