Felipe Neto defende que ensinar Machado de Assis a adolescentes é errado, pois o grau de dificuldade das obras faria com que os alunos passassem a odiar literatura.
Felipe Neto que, ao contrário de Machado, foi fundamental para garantir a vitória de Lula.
Acho curiosa a ideia de que o professor de literatura tem que fazer o aluno gostar de literatura. Curiosa não quer dizer (de todo) equivocada, mas também não quer dizer livre (de toda) perversidade.
Do professor de matemática, cobra-se que o aluno aprenda a fazer conta, não a amar geometria. Do professor de História, cobra-se que o aluno acerte questões sobre a Ditadura Militar, ainda que deteste a matéria.
Um aluno pode odiar Física, mas estudar o suficiente para fazer uma boa prova. Missão cumprida, ainda que secretamente, esse aluno deseje que Newton enfie suas três leis lá onde o sol não alcança.
Apenas do professor de literatura espera-se esse pequeno milagre, simplesmente um dos maiores mistérios da vida humana: como ensinar a paixão e o amor?
Professores fracassam quando os alunos não aprendem. O coitado do professor de literatura, ao contrário, fracassa quando os alunos não amam.
Pobre dos professores que precisam se haver com a paixão dos homens e do mercado em uma sociedade dominada pelo ódio…
(enquanto a mim, ruminante alheio, respiro arriscando pisadas incertas, desconfiado do que fazer desse anseio vagamente sádico por leitores que saibam ler Lobato não por amor, mas por ódio ao que pode ser feito em nome da literatura).
Eu gostaria de observar os olhos de Felipe Neto no exato instante em que, escovando os dentes ou passando um café, ele desconfiasse de que o desprezo que a sociedade nutre pela literatura tem mais a ver com o amor a ele do que com o fracasso dos professores. Não por maldade, ou por vingança: é que os abismos das almas me atraem.
Nesse único e breve exato instante, Felipe Neto se tornaria um excelente personagem literário.